Todo dia, os moradores enfrentam filas enormes no banco. Só quem chega muito cedo, consegue sacar o salário ou a aposentadoria.
Dentro da agência, filas enormes. Do lado de fora, muita reclamação. “Nós ficamos o dia todinho aqui e não tem dinheiro para pagar os aposentados. A gente vem de manhã, vem às 12h, às vezes, vem de tarde e não tem”, conta Antonieta Rodrigues, aposentada.
O problema começou há pouco mais de dois meses, quando a única agência bancária da cidade foi alvo dos bandidos pela sétima vez. São Miguel do Tapuio fica bem na divisa do Piauí com o Ceará, o que facilita a ação e a fuga dos bandidos. “Não existe segurança para nós não. Aqui acontece assaltos e mais assaltos e nunca combatem os assaltos”, reclama um morador.
Depois do último assalto, o banco chegou a fechar. Agora que reabriu as portas, os clientes dizem que falta dinheiro nos caixas. Muitos idosos não conseguiram sacar a aposentadoria. “A gente dá duas, três, quatro viagens e dinheiro nada nos caixas”, conta um aposentado.
Agricultores ficaram sem acesso aos créditos rurais. E servidores públicos tiveram que buscar o salário em agências de outras cidades. “Nós professores já estamos indo para outra cidade, Valença, em Pimenteiras, correndo o risco de ser assalto no caminho porque a situação é desse jeito. Quando chega esperamos na fila duas, três horas para atenderem a gente e, quando atente, quando é 10h, o dinheiro já tem acabado”, afirma Francisco da Rocha, professor.
Com os saques limitados, a população passou a recorrer às lojas que têm postos de atendimento bancário. Na última terça-feira, o repórter Marcos Teixeira flagrou a situação caótica em um desses locais.
A fila começa na calçada e vai até dentro do ponto comercial. Há muita dificuldade para as pessoas, principalmente, idosos e deficientes físicos, que são obrigados a encarar toda essa movimentação para receber o benefício da Previdência Social. O jeito é recorrer aos comércios da cidade porque no banco não há dinheiro. “E nós ficamos correndo de um lado para outro porque não tem dinheiro”, afirma Luciene Soares Alves, agricultora.
Sem dinheiro no banco, o movimento do comércio caiu em 70%. Para reverter essa situação, os comerciantes se uniram para bancar o reforço do policiamento nas ruas. Cada lojista paga de R$ 30 a R$ 100 por mês. A contribuição é para que policiais militares de folga patrulhem as ruas da cidade, nos horários de maior movimento comercial. “Quem quiser contribuir com o valor que acha que deve e que você pode doar, a gente pega e arrecada, paga a estadia deles, a alimentação e o resto divide entre eles”, explica Cleuton Milanez, comerciante.
O comandante da Polícia Militar do Piauí, coronel Lídio Filho, aprova a iniciativa. “É muito louvável, os comerciantes estarem fazendo isso e até aplaudo. E a população está certa e tem todo o meu apoio”, diz o comandante da PM do Piauí.
Apesar de todas as reclamações que o Bom Dia Brasil ouviu dos moradores, o Banco do Brasil afirma que a falta de dinheiro no município já foi resolvida. “A agência esteve inoperante com relação às funções de saque e de depósito, mas quando ele retomou agora na segunda-feira (4) as suas atividades dentro de uma normalidade, essa situação foi regularizada”, afirma Rosélio Furst, superintendente do Banco do Brasil.